‘Arame Farpado’: curta produzido no interior de SP é selecionado para festival de cinema em Berlim


Gustavo de Machado, roteirista e diretor, fala sobre o processo de produção do curta-metragem em Paraguaçu Paulista (SP). 75ª edição do festival será realizada neste mês. Curta-metragem ‘Arame Farpado’ foi produzido no interior de SP, em Paraguaçu Paulista
Renato Groberman Hojda/Divulgação
Com uma história comovente, o curta-metragem “Arame Farpado”, dirigido e roteirizado por Gustavo de Carvalho, de 27 anos, foi selecionado para a 75ª edição da Berlinale, um dos mais importantes festivais de cinema do mundo. Gravado em Paraguaçu Paulista (SP), o filme foi feito com recursos da Lei Paulo Gustavo, um incentivo federal voltado à recuperação do setor audiovisual após a pandemia de Covid-19.
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O drama narra a jornada de Angelina junto a sua irmã, que, após um acidente familiar, são obrigadas a passar a noite em um hospital, acompanhadas de um recém-chegado padrasto, vendo a realidade de outras pessoas e lidando com os próprios desafios.
Gustavo de Carvalho, natural de Paraguaçu Paulista, começou sua trajetória no cinema aos 13 anos, criando vídeos caseiros com amigos. Formado em cinema por uma universidade particular de São Paulo, ele sempre se dedicou mais ao aprendizado prático, preferindo aprender nas filmagens e no contato com profissionais da área.
Para o diretor, o cinema é uma combinação de teoria e prática, no qual a experiência em um set é essencial para a construção de uma narrativa poderosa.
“O cinema é muito teórico, mas também se aprende muito mais na prática. Realmente estando em um set de cinema, rodando, fazendo filme, é daí que vem tudo.”
Processo criativo
A ideia para “Arame Farpado” surgiu de uma experiência pessoal de Gustavo, quando seu pai sofreu um engasgo e foi levado ao hospital. Durante toda a noite de espera na sala de emergência, ele observou as diferentes histórias que deixavam aquele ambiente caótico.
Gustavo, diretor do filme, diz que o cinema é uma combinação de teoria e prática
Andre Fridman/Divulgação
A protagonista, Angelina, e sua interação com a personagem Evita, sua irmã mais velha, refletem essa jornada de evolução e conflito com realidades difíceis.
“Eu diria que é um drama pessoal também envolvido com um drama de observação de outras pessoas que passam ali, que estão naqueles ambientes que acabam afetando a vida dela, e ela é essa criança que é finalmente colocada de frente para a vida, sem censura e posta sem medo também.”
Produção e desafios
A produção de “Arame Farpado” enfrentou desafios logísticos, principalmente pela necessidade de filmar em um pronto-socorro. Como não seria possível gravar em um hospital real, a equipe construiu um cenário em um prédio vazio na avenida principal de Paraguaçu Paulista.
A montagem do hospital gerou tanta curiosidade na cidade que algumas pessoas chegaram a acreditar que uma nova UPA estava sendo aberta, segundo Gustavo.
“A gente montou todo um cenário de um pronto-socorro de uma UPA, com todas as placas, toda a sala de espera na frente do prédio, onde seria esse hospital. As pessoas começaram a acreditar realmente que era um pronto-socorro que estava abrindo na cidade. Teve umas duas pessoas que chegaram no dia da filmagem querendo ser atendido, acharam que era realmente uma UPA que estava abrindo nova, e a prefeitura teve que ir lá e explicar para a população o que estava acontecendo, que era um filme, era um cenário.”
Hospital cenográfico foi construído para a jornada da história
Andre Fridman/Divulgação
Elenco
O elenco do curta foi composto principalmente por atores locais de Paraguaçu Paulista, mas também contou com a participação da atriz Camila Botelho, de Minas Gerais.
Isabela Guido, de 12 anos, foi uma das grandes descobertas de Gustavo, que a encontrou em uma escola local. Sua naturalidade diante da câmera e sua facilidade para se expressar tornaram-na a escolha ideal para o papel de Angelina, segundo ele.
“A Isabela Guido, eu descobri ela em uma escola da cidade, fiz um teste, e foi uma coisa muito rápida, eu vi que ela tinha uma coisa ali muito natural, ela lidava muito bem com a câmera. Você vê que é aquela criança que não tem nenhuma barreira para conversar, para se expressar, para falar em frente a uma câmera, não desvia o olhar, então isso é muito importante.”
Elenco inteiro vai estar presente no festival de Berlim
Andre Fridman/Divulgação
Isabela Guido, de 12 anos, provou que merecia o papel durantes os testes
Renato Groberman Hojda/Divulgação
Seleção para a Berlinale
A seleção de “Arame Farpado” para a Berlinale, que será realizada neste mês, é uma grande vitória para o cinema brasileiro, especialmente para o cinema independente do interior paulista. Para Gustavo, esse reconhecimento internacional é uma oportunidade única de mostrar o talento do cinema do interior do Brasil para o mundo.
Filme foi selecionado para a 75ª edição da Berlinale, um dos mais importantes festivais de cinema do mundo
Renato Groberman Hojda/Divulgação

Ele cita ainda que um exemplo a ser seguido para demonstrar a importância do cinema brasileiro na indústria mundial é o filme de Fernanda Torres, “Ainda Estou Aqui”.
“Toda essa comoção que a gente está tendo com a Fernanda, com ‘Ainda Estou Aqui’, é importantíssimo para o cinema brasileiro ser visto e continuar sendo visto, mostrar o que a gente tem de bom, não só no drama, na comédia, em outros gêneros.”
Além disso, Gustavo confirmou que estará presente no festival junto com todo o elenco, e acredita que será uma experiência sensacional para todos, especialmente para a atriz mirim Isabela Guido.
Futuro e perspectivas
O cineasta já tem novos projetos em mente, incluindo um curta de suspense e terror familiar, com uma boa parte do elenco de “Arame Farpado” retornando. Outro projeto no papel é o de um longa-metragem, que já está em desenvolvimento.
Gustavo aconselha diretores iniciantes ou cineastas que sonham em estar em um festival como esse a fazerem o melhor filme que é possível fazer, sem estarem destinando isso a um festival específico ou a uma amostra específica.
“Se você quer fazer um bom filme, você trabalha para isso da melhor forma que você consiga no roteiro, na realização desse filme, no trabalho de casting, nesses diálogos com os atores, na direção de fotografia, direção de arte, em toda a produção do filme. Realmente, o maior foco que você pode ter e a maior vontade em fazer um filme é trabalhar da melhor maneira que você pode.”
Gustavo de Machado já tem novos projetos em mente
Andre Fridman/Divulgação
*Colaborou sob supervisão de Mariana Bonora

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