Entregas na pandemia, quilômetros de caminhada e até casamento: carteiros contam histórias da profissão


Profissão passou por mudanças com os avanços tecnológicos, mas permanece essencial para a sociedade. O g1 conversou com carteiros que trabalham no interior de SP sobre a rotina da profissão, que é celebrada neste sábado (25). Carteiros do interior de SP relatam rotina da profissão, que é celebrada neste 25 de janeiro
Arquivo pessoal
Quantas histórias, sonhos, comunicados, tentativas de contato e até boletos passam pelas mãos de um carteiro? Celebrado neste sábado (25), o Dia do Carteiro marca o início da entrega de correspondências no Brasil e ressalta o papel fundamental do carteiro intermediador entre remetente e destinatário.
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Para celebrar a data, o g1 conversou com carteiros que dedicam décadas de vida à função e criaram um forte vínculo com a profissão, como a dos carteiros Alexandra Gomes da Silva, de 56 anos, e Juliano Souza Soares, de 53, que hoje trabalham em uma unidade dos Correios em Jundiaí (SP). A conexão entre os dois se estreitou tanto que a amizade profissional virou um casamento.
“Nos conhecemos no Centro de Entrega de Encomendas Água Branca, em São Paulo, há 23 anos. Eu tinha cerca de quatro anos de empresa e ela tinha alguns meses. Namoramos, nos casamos e temos um filho de 19 anos. Uma família construída a partir da nossa profissão”, relata Juliano.
💌 Sempre juntos
Desde então, o casal sempre trabalhou junto. Quando Juliano precisou se mudar para Jundiaí, depois de 21 anos trabalhando na capital paulista, Alexandra veio junto. Por muito tempo, os dois exerceram a mesma função, de carteiro motorizado, mas, atualmente, Alexandra trabalha na área interna da empresa. Ela diz que, para fazer dar certo, é preciso saber separar a vida pessoal da profissional.
“Não deixa de ser um aprendizado todos os dias, conciliando a profissão e a família. Com respeito, companheirismo e com sabedoria, sabemos separar o lado profissional do pessoal. Quando colocamos o uniforme, somos Correios, somos colegas de trabalho, estamos sempre nos ajudando, em busca das nossas conquistas. Sempre gratos pela vida e com orgulho da nossa profissão”, afirma Alexandra.
Casal se conheceu enquanto trabalhava em centro de entregas de encomendas dos Correios, há 23 anos
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Orgulho de ser carteiro
Para o casal de carteiros, as campanhas institucionais e as ações sociais promovidas pela empresa despertam ainda mais o sentimento de orgulho e fazem com que eles enxerguem o ofício como uma missão de vida.
“A megaoperação para entrega de donativos no Rio Grande do Sul, e outros estados quando necessário, a campanha Papai Noel dos Correios, entrega de urnas eletrônicas em regiões de difícil acesso. São momentos da nossa rotina de trabalho que mostram que temos um importante papel social com a população”, aponta Alexandra.
Alexandra Gomes Soares trabalha como carteira há 23 anos e conheceu o esposo na empresa
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“Na pandemia da Covid, nós não paramos. Eu cheguei a entregar uma encomenda em uma casa que estava todo mundo doente. Apertei a campainha e o homem falou: ‘moço, a gente está com Covid, não posso sair buscar’. Eu falei para ele: ‘moço, o senhor acredita em Deus?’. Aí ele falou que acreditava e eu disse: ‘então pode vir buscar, estou com os itens de segurança. Se eu deixar aqui, alguém pode passar e levar sua encomenda’. Aí entreguei direto para ele”, relembra Juliano.
Quem visita a casa da família encontra, em meio à decoração, “bibelôs” da empresa, itens que deixam evidente o carinho que o casal tem pela profissão.
Na casa de Juliano e Alexandra, a decoração conta com itens comemorativos dos Correios, empresa onde trabalham há duas décadas
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👣 Quilômetros de caminhada
Dos 38 anos de vida de Andréia Aparecida Israel Ricardo Padilha, 18 são dedicados à função de carteira, que sempre exerceu pelas ruas de Sorocaba (SP).
“Fui carteiro pedestre por 15 anos e, hoje, exerço a função de carteiro motorizado. Estou nesta função há uns dois anos. Também já exerci a função de supervisora operacional”, relembra Andréia.
Andréia Aparecida Padilha atuou 15 anos como carteira pedestre e, há dois anos, trabalha como carteira motorizada em Sorocaba (SP)
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Na bolsa azul transversal, Andréia levava cartas e encomendas menores. Isso porque, conforme ela explica, há um limite de peso que os carteiros pedestres podem carregar.
“Para homem, o limite é de 10 quilos e, para mulher, oito quilos. Quando trabalhava como carteira pedestre, já cheguei a andar 16 quilômetros em uma dia de entrega. Fiz itinerários nos bairros São Guilherme, Vila Fiori, Mineirão. Enfrentei bastante subida e descida.”
Há dois anos, Andréia optou por deixar as caminhadas e começar a fazer as entregas com veículos. Ela relembra que, quando entrou na unidade em Sorocaba, não havia carros para fazer as entregas. Hoje são mais de 20 veículos que auxiliam os profissionais.
“As encomendas estão tomando conta. O volume de carta diminuiu bastante. É um ou outro boleto que ainda vem para entrega”, analisa Andréia.
Carteira Andréia Aparecida Padilha acompanhou as mudanças que a tecnologia trouxe para a profissão
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📬 Tecnologia como aliada
Em média, 140 pacotes passam pelas mãos de Andréia todos os dias. Antes, a maioria era carta, correspondência trocada entre amigos e familiares que moravam distante. O hábito passou por mudanças com o avanço da tecnologia e facilitou a comunicação à distância.
“Quando eu era adolescente, morava em uma cidade pequena e lá era muito comum trocar cartas entre amigos e familiares de longe”, conta Andréia.
Mas os avanços tecnológicos não impactaram somente de forma negativa o trabalho dos carteiros, conforme os profissionais relatam.
“Quando entrei na empresa, as entregas ocorriam de forma bem manual e, hoje, com a tecnologia, já houve bastante mudança. Com a chegada dos celulares, melhoraram muito as informações das entregas, desde a postagem até a entrega ao destinatário. Tudo pode ser acompanhado, garantindo mais confiança para as pessoas”, pontua Andréia.
“Antigamente não tinha GPS. A gente usava o guia, tirava xerox do mapa da área onde íamos, sublinhava os lugares e tentava memorizar até aprender bem”, cita Juliano.
Juliano relembra que usava mapas impressos para saber onde fazer as entregas antes da chegada dos GPS’s
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✉️ Reconhecimento profissional
Para Andréia, a profissão de carteira permite que ela tenha contato com as pessoas, compartilhe experiências e conheça histórias. Atribuições que, para ela, amenizam o cansaço da rotina.
“Já tive vários sustos com cachorros soltos na rua, dificuldade para entregar em dias de chuva ou calor intenso dos últimos anos, mas muitas pessoas reconhecem o meu trabalho, meu esforço. Oferecem um copo de água fresca, falam algumas palavras de conforto para mim. Mas o mais importante são os reconhecimentos e amizades que foram construídas ao longo dos anos com as pessoas onde trabalhei ou fazendo as entregas. Às vezes, mesmo sem uniforme, as pessoas me reconhecem e vêm me cumprimentar, me elogiar. Isso não tem preço.”
Em 18 anos trabalhando como carteira, Andréia ‘coleciona’ amizades feitas tanto na empresa como fora dela
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Carteiro pedestre ou motorizado
Segundo os Correios, em Jundiaí, há atualmente 48 carteiros pedestres e 67 carteiros motorizados. Em Sorocaba, são 84 carteiros pedestres e 97 motorizados.
Os carteiros pedestres entregam cartas, envelopes e encomendas de pequeno porte que não chegam a um quilo. As entregas de encomendas de médio porte, malotes e telegramas são feitas por carteiros motociclistas, enquanto as encomendas de médio a grande porte e malotes são feitas com carros utilitários.
Conforme a empresa, o profissional que atua nas ruas e deseja mudar para a função motorizada deve passar por um teste prático, que faz parte do processo de recrutamento interno.
O concurso dos Correios de 2024 ofereceu 3.099 vagas para agentes, o nome formal dos carteiros. O salário inicial para a função é de R$ 2.429,26 e qualquer pessoa que tenha o ensino médio completo pode concorrer às vagas.
Conforme a descrição do edital do concurso, as responsabilidades dos carteiros incluem coletar, receber, triar, conferir, recondicionar, distribuir, anotar, dar baixa e devolver objetos postais, mensagens telegráficas, contratos especiais e outros produtos e serviços da empresa.
As atribuições específicas envolvem ainda: pesquisar, rastrear, identificar e prestar contas dos objetos e documentos sob sua responsabilidade, utilizando equipamentos apropriados e cumprindo normas de segurança. Também é necessário operacionalizar o processo produtivo telemático relativo à distribuição, seguindo padrões e normas estabelecidos.
De forma eventual e opcional, os agentes dos Correios podem participar de campanhas promocionais e sociais da empresa, divulgando produtos e serviços, sugerindo oportunidades de negócios e prestando informações sobre programas governamentais e o plano estratégico da empresa.
Por fim, os carteiros executam atribuições relativas ao atendimento e vendas em unidades de pequeno porte, sempre seguindo os padrões e normas estabelecidos.
Qualquer pessoa que tenha o ensino médio completo pode prestar o concurso dos Correios
Joédson Alves/Agência Brasil
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