Costuma-se propagar a ideia de que políticos só enxergam o horizonte do próximo pleito, sufocados pelos ciclos eleitorais, pela influência de grupos de interesse e pela ânsia de aparecer bem na imprensa. Todavia, tal suposição me parece falha, e estou prestes a averiguar por mim mesmo se essa impressão se sustenta ou será desmentida pelos fatos.
Na PRIME Society — uma organização sem fins lucrativos que almeja reinventar as engrenagens da governança moderna — nossa missão não é das mais simples: persuadir cidades, estados, nações, empresas e cidadãos a integrar nossa federação. A dificuldade está em contra-argumentar a necessidade de apresentar resultados rápidos para atender às expectativas políticas imediatas de um mandato, ao passo que propomos reformas profundas e estruturais com benefícios evidentes, mas que ultrapassam os limites do pragmatismo iminente.
É preciso lembrar: os políticos são, antes de tudo, seres humanos. Como qualquer um de nós, muitos tendem ao imediatismo, ao simplismo e ao conforto de soluções rápidas. Porém, há também aqueles que, munidos de uma compreensão mínima sobre planejamento de carreira e consolidação de uma marca pessoal de sucesso, percebem a necessidade de uma visão de futuro. Estes sabem que um líder não se forja sem perseverança, sem cultivar um propósito que transcenda a próxima eleição.
Abraham Lincoln e Yitzhak Rabin, cada um a seu modo, fracassaram repetidas vezes antes de atingir seus grandes feitos. Marine Le Pen, na França, disputou três eleições presidenciais sem obter êxito, mas vem se fortalecendo. Vereadores ou deputados, por exemplo, que vislumbram um assento no Senado podem levar décadas até concretizar essa trajetória. Assim, pergunto: será mesmo que não há políticos dispostos a ingressar em um “clube” comprometido em reformular métodos de governança, apoiados em conhecimento científico, histórico e tecnológico, de modo a projetar sua imagem para um futuro promissor?
Consideremos, então, o caso de alguém genuinamente decidido a “mudar o sistema para valer”. Acreditaria tal político que formar um novo partido, vencer as eleições presidenciais e conquistar a maioria no Congresso, no Senado e mesmo o apoio no Judiciário seria mais ágil que construir, de antemão, um “sistema operacional” de governança do zero? Uma plataforma flexível, que diferentes governos pudessem adotar — ainda que parcialmente — para aprimorar suas gestões?
Com frequência, políticos carecem de recursos, tanto financeiros quanto humanos, para conduzir pesquisas, buscar as melhores práticas, soluções e especialmente formas para executá-las. A PRIME Society surge como uma resposta: repensamos padrões de governança, desenvolvemos software livre que implementa tais padrões e tornamos acessível a adoção e a personalização dessas ideias. Conforme mais adeptos se reúnem ao nosso “clube”, seu valor cresce, pois se acumulam recursos, resultado de estudos, ferramentas e cases de sucesso, prontos para uso por aqueles que desejam liderar com solidez e embasamento – em vez de Nações Unidas, são governos, empresas e políticos unidos pelo planeta.
Ao adotar essa abordagem, o político ganha instrumentos consistentes, lastreado por uma visão de longo prazo. Não se vê mais refém de ideologias possivelmente ultrapassadas — ora de esquerda, ora de direita — que pouco confortam a população, nem se deixa intimidar por exemplos de nações anti-democráticas cujos modelos vêm obtendo progressos em ritmo acelerado. O desafio político, entretanto, permanece árduo: é preciso articular, convencer, conquistar votos e apoio. Mas se aguardarmos até alguém chegar ao ápice do poder para somente então iniciar a construção de uma nova plataforma de governança, perderemos um tempo valioso – e maiores serão as chances desse político fracassar.
O desgaste típico de qualquer mandato encurta a janela de oportunidade para promover grandes reformas. Daí a urgência de se ter uma “versão 1.0” desses sistemas prontos para quando os políticos que endossam tais ideias assumirem cargos decisivos. Ao alinharem-se com propostas como Zonas Especiais de Governança Autônoma (ZEGA), cartórios digitalizados, participação pública eletrônica, transparência total no uso de recursos, modelos eficazes de fiscalização e contratação, ciência aplicada à elaboração de leis, interoperabilidade social e indicadores comparativos, esses líderes estarão apontando para um amanhã mais eficiente, honesto e próspero.
Nenhum sistema político jamais será perfeito. Entretanto, é inegável que o “sistema operacional” de uma sociedade determina para onde fluem as aspirações de seu povo. E, como nos ensinam as migrações, quando as pessoas deixam um local e buscam outro, elas estão “votando com os pés”: rejeitam o ordenamento anterior e endossam as regras de seu novo destino.
Nosso propósito é facultar aos políticos as ferramentas necessárias para evitar que famílias abandonem suas raízes e suas comunidades em busca de melhores oportunidades apenas porque onde vivem carecem de dispositivos governamentais adequados. Queremos oferecer uma nova maneira de gerir a coisa pública, um método que permita a cada governante visionário vencer, de fato, para o bem de seus eleitores — e não apenas no fragor da urna.
Em suma, o curto prazo pode capturar a atenção imediata, mas é no longo prazo que as verdadeiras transformações se consolidam. E aqueles que se propõem a liderar com ousadia hão de encontrar, na PRIME Society, um caminho para equilibrar resultados imediatos e mudanças estruturais, garantindo que a ponte que prometem construir conduza a um lugar real, digno e duradouro.