Três reféns mantidas em Gaza desde 7 de outubro de 2023 foram trazidas de volta hoje para Israel. Duas foram sequestradas de suas casas e uma, de um grande festival de música que ocorria próximo à fronteira de Gaza no dia da invasão do Hamas ao sul de Israel. Doron Steinbrecher, 31 anos, é enfermeira veterinária e foi sequestrada na comunidade agrícola de Kfar Aza. Emily Damari, 28 anos, vizinha de Doron, foi levada em seu próprio carro após ter sido baleada na mão e ferida nas pernas. Já Romi Gonen, de 24 anos e também baleada na mão à queima-roupa, foi sequestrada no Festival Nova. Ela estava com a mãe ao telefone quando terroristas a arrancaram de dentro carro em que tentava fugir. Outro evento importante aconteceu ontem, quando o exército israelense conseguiu resgatar em Gaza o corpo de Oron Shaul, soldado morto pelo Hamas na guerra de 2014. Agora, restam em Gaza 94 reféns vivos e mortos.
Longe dos olhos e perto do coração
Doron, Emily e Romi estavam na lista de mulheres e crianças que deveriam ter sido libertadas no acordo feito entre Israel e Hamas em novembro de 2023. Elas ficaram para trás depois que o então líder do Hamas, Yahya Sinwar, interrompeu o processo, o que provocou a retomada dos combates. Daquela vez, a imprensa e o público tiveram amplo acesso a imagens e entrevistas com os que retornavam e suas famílias, o que provocou enorme estresse entre os envolvidos. Por isso, dessa vez, tudo será diferente. A grande equipe multidisciplinar que preparou-se para recebê-los definiu que eles permanecerão por alguns dias – ou até mesmo semanas ou meses – longe dos olhares do público. Cinco hospitais separaram uma ala inteira para receber os sequestrados e tudo foi preparado de acordo com um protocolo que foi sendo readaptado na medida em que o período de cativeiro se estendia. Uma vez que não existem registros médicos sobre seres humanos que tenham passado pelas privações que estes reféns passaram – 15 meses sob poder de terroristas, vivendo em túneis sem luz solar e com baixa oxigenação, sem alimentação, higiene ou cuidados médicos adequados (a maioria deles foi gravemente ferida durante o sequestro), e sujeitos a abusos morais e físicos –, os médicos podem imaginar, mas não saber ao certo, em que condições físicas e mentais retornarão do cativeiro.
Luz sobre Israel
A volta de Doron, Emily e Romi após essa experiência brutal lança um raio de luz e esperança sobre toda Israel. O acordo que permitiu sua libertação é polêmico aos olhos dos israelenses: uma parte o considera um sinal de derrota do país, enquanto outra celebra a libertação de parte das vítimas e o avanço em direção ao fim da guerra. No entanto, é amargo para todos o fato de este acordo deixar para trás, nesse momento, os demais 61 reféns. A libertação deles ainda deverá ser negociada entre Israel e Hamas, daqui a cerca de duas semanas. Se esta foi uma evidente derrota política para Israel por um lado, por outro confirma o princípio de responsabilidade mútua praticada historicamente pelo povo judeu. Agora chega a vez de Israel cumprir sua parte do acordo, libertando dezenas de palestinos presos por diferentes crimes em prisões israelenses. É importante que fique claro o que está acontecendo agora: de um lado, está um país democrático que sofreu o pior atentado de sua história e que resultou no sequestro de 254 de seus cidadãos; do outro, um grupo terrorista que, para entregá-los de volta, exige o fim da guerra que provocou e a libertação de milhares de terroristas presos por praticar crimes graves.