ANGELA WEISS
A humanidade abriu “os males de uma caixa de Pandora moderna”, entre os quais se incluem as novas tecnologias “fora de controle” que ameaçam nossa “própria existência”, alertou nesta quarta-feira (15) o secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Nossas ações, ou inações, desencadearam os males de uma caixa de Pandora moderna”, disse Guterres na apresentação de suas prioridades para 2025 diante da Assembleia Geral.
“Quatro desses males se destacam porque representam, no melhor dos casos, ameaças que poderiam perturbar todos os aspectos de nossa agenda e, no pior, virar nossa própria existência de cabeça para baixo: conflitos desenfreados, desigualdades galopantes, crise climática avassaladora e tecnologia fora de controle,” afirmou.
Os conflitos se “multiplicam, são cada vez mais complexos e mortais”, como em Gaza ou no Sudão, lembrou Guterres, que também denunciou a ameaça nuclear, os ataques “constantes” aos direitos humanos e “a impunidade endêmica”.
O chefe da ONU fez um apelo “a todas as partes para alcançar um acordo de cessar-fogo e a libertação dos reféns” em Gaza, no momento em que o acordo está na “fase final”, segundo o Catar, um dos mediadores das negociações indiretas, após 15 meses de guerra entre Israel e Hamas.
Guterres também expressou preocupação com a “reorganização” em curso no Oriente Médio, do Irã até a Síria, e criticou as indústrias fósseis e outros responsáveis pela crise climática “que devasta” o mundo.
“Olhem apenas para as colinas de Los Angeles, cenário de filmes catastróficos transformadas em cenário catastrófico”, disse, referindo-se aos incêndios que têm devastado a capital do cinema há vários dias.
Enquanto os signatários do Acordo de Paris devem apresentar nas próximas semanas seus objetivos climáticos para 2035, Guterres anunciou uma cúpula para fazer um “balanço” desses planos e manter o objetivo de um aumento da temperatura de +1,5°C antes da COP30 no Brasil, em novembro. O combate à mudança climática é uma de suas prioridades à frente da entidade.
Quanto à inteligência artificial, uma das suas grandes preocupações, o chefe da ONU lembrou que, embora ofereça “oportunidades sem precedentes”, também necessita de uma “gestão prudente”.
“O mundo precisa de uma IA ética, segura e protegida”, afirmou, instando a Assembleia Geral, que reúne os mais de 190 países membros da ONU, a estabelecer “imediatamente” o Grupo Internacional de Especialistas aprovado pelos Estados-membros para orientar os responsáveis pela tomada de decisões sobre os riscos e as oportunidades da IA.
“Temos uma responsabilidade histórica para garantir que esta revolução beneficie toda a humanidade e não apenas alguns poucos privilegiados”, concluiu.